Edgar Allan Poe escrito em dourado sobre a capa preta. Possui a ilustração de uma mão segurando uma caveira e corvos voando.

Um autor clássico que não deixa de impressionar

Edgar Allan Poe inspirou gerações com seus contos de horror, terror e investigação e esta edição da Darkside faz jus ao seu nome

Larissa Vasconcelos
5 min readJun 23, 2020

Medo Clássico: Edgar Allan Poe volume 1 (Darkside, 2017, 384 páginas), com a tradução de Marcia Heloisa e ilustração de Ramon Rodrigues, reúne 15 contos divididos em 5 secções, classificando-os por assunto, e seu mais famoso poema, intitulado “O Corvo”, em uma secção única com descrições do próprio Poe. O autor chega à Darkside em duas edições. A editora criada em 2012 é dedicada à ficção científica, terror, fantasia e quadrinhos, possuindo apenas edições de capa dura desde 2015.

A assinatura de Edgar Allan Poe escrita em branco sobre duas paginas de cor preta.

Com ilustrações bem detalhadas em preto, o livro materializa seus macabros personagens quase como se soprasse vida a eles, e a capa bem trabalhada conclui que houve uma excelente diagramação que deixa o livro uma obra de arte.

Considerado mestre do terror e pai das histórias modernas de detetive, Poe nos leva em uma caminhada por seus contos sombrios em uma escrita floreada que nos permite mergulhar nas emoções dos personagens e em seus pensamentos de maneira plena, encarando seus medos, erros, culpas e encadeamentos lógicos em histórias perfeitamente amarradas.

Uma caveira em um antigo e longo vestido de baile dança com um homem vestindo smoking ou black tie. Ilustração na cor preta.

A secção intitulada Espectro da morte possui os contos “O poço e o pêndulo”, que é altamente subjetivo e carregado de significados quanto aos elementos apresentados, e o poço em si, com um final muito imaginativo. O segundo conto, “A queda da casa de Usher”, nos mergulha em uma narrativa psicológica, conturbada e melancólica que vai aumentando até o clímax e final perturbador da história. E, por fim, “O baile da morte vermelha” nos leva face a face com ela, a morte, e a uma grande reflexão a respeito de sua chegada para todos, não importando idade, lugar ou riqueza.

Na secção Narradores homicidas, temos três contos com macabras descrições de planejamentos e execução de assassinatos. O primeiro conto, “ Gato Preto”, traz o relato dos acontecimentos que levaram o homem a assassinar sua esposa e, por tamanha certeza de que nunca achariam o corpo, revelar onde a escondera. Já o “Barril de amontillado” nos leva a um assassinato cruel, sádico e totalmente planejado. E, por fim, “ O coração delator” também conta um assassinato planejado e sádico, mas que, carregado com o peso da culpa, leva nosso assassino à revelação.

Uma caveira tira uma carta de uma caixa porta cartas onde tem um corvo sentado.

A terceira seção nos premia com as histórias do detetive Dupin, chamado assim, mesmo que não seja realmente um detetive e apenas resolva casos que ache interessantes. O primeiro conto feito em 1841 dá início às modernas histórias de detetives e nos leva a conhecer o encaminhamento lógico que ocorre na cabeça do detetive para a resolução dos casos. Os contos “Assassinato na rua Morgue”, “O mistério de Marie Rogêt” e “Carta roubada” nos levam por todo o cenário a ser investigado, permitindo-nos pensar como Dupin e até mesmo, quem sabe, arriscar o final da história. Infelizmente a narrativa “ O mistério de Marie Rogêt” não nos conta como todo o encadeamento lógico de Dupin estava certo, já que a revista em que foi publicado originalmente omitiu esta parte, apenas informando que suas suposições obtiveram o resultado esperado.

Eleonora representada como uma caveira em um vestido longo e antigo. Com um grande chapéu com penas e tem um corvo na frente.

A melancólica secção Mulheres etéreas trás os contos de “Berenice”, “Ligeia” e “Eleanora”, três mulheres que morreram na flor da idade e que deixaram grande luto aos seus maridos. Passam os sentimentos de luto, perda, negação e, em “Eleanora”, libertação, e nos levam a sentir o profundo luto de seus narradores, que, em devaneios profundos, lembram suas amadas com doçura e reverência. As histórias parecem ser a mais profunda representação dos sentimentos que Poe carrega pelas perdas da mãe e da esposa devido à tuberculose, ambas ainda muito jovens, com aproximadamente 24 anos.

A última secção de contos é intitulada Ímpeto aventureiro. No primeiro conto, “Manuscrito encontrado em uma garrafa”, somos presenteados pelo mistério de uma viagem pelo mar para um lugar desconhecido em um navio totalmente incomum e que nos faz sentir como os viajantes de antigamente, que criavam mitos sobre a imensidão do mar. Em “O escaravelho de ouro” temos uma busca ao tesouro que, em um primeiro momento, parece místico, mas depois se revela como sendo mais lógica do que misticismo. Por fim, “Nunca aposte a cabeça com o diabo” vem para provar para aqueles que não acham moral em suas histórias que todas elas a possuem. Diferentemente de outros contistas, suas reflexões não estão estampadas no título ou descritas com todas as letras no final, é preciso ler e sentir sua história para encontrar a reflexão que esta deixa. Por este motivo, diferentemente dos outros contos, este logo oferece a lição de cara, no título, para que todos vejam.

Um esta sentado em meio a vegetação é observado por uma caveira. Como todas as imagens anteriores esta também é na cor preta

Para finalizar a composição do livro, temos um capítulo todo intitulado “O corvo”, que possui a filosofia da composição escrita pelo próprio Poe, a versão original, a tradução de Machado de Assis e a tradução de Fernando Pessoa. A imersão, desta forma, no poema é total, sentindo toda a melancolia e até certo ponto a loucura de um jovem apaixonado que perde sua amada e solitariamente devaneia sobre reencontrá-la novamente e sobre superar sua tristeza com seu visitante inesperado e até mesmo agourento, o corvo.

A edição ainda possui uma introdução contando um pouco da vida do autor e fotos da casa onde viveu na Pensilvânia, terminando assim o primeiro volume do mestre dos mistérios Edgar Allan Poe.

Larissa Vieira Vasconcelos.

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Larissa Vasconcelos

Jornalista. Interessada em pautas políticas, econômicas, cinematográficas e literárias.