Before the Flood

Mais perto da enchente do que nunca

Larissa Vasconcelos
5 min readJun 29, 2020

O longa-metragem de 96 minutos, lançado em 2016, Before the Flood (em tradução literal: antes da enchente), tem produção e direção de Fisher Stevens e conta com o ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio, que nos mostra dois anos de suas entrevistas e lugares que visitou após ser nomeado pela ONU com o título de Mensageiro da Paz para Mudanças Climáticas.

Contando com uma ótima fotografia e entrevistas de peso, como o Papa Francisco, Barack Obama, secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, entre outros, é impossível não dar importância ao que se está assistindo. Além de todos estes fatores, a produção convida o telespectador a refletir sobre o próprio papel para a diminuição do aquecimento global. Três anos se passaram e os problemas continuam os mesmos, entretanto toda a atmosfera de esperança de DiCaprio está mais longe devido ao avanço da insensatez.

terreno totalmente devastado, com poços de água na mistura de areia e petroleo. Areia betuminosa.

A produção dá o alerta sobre nossa dependência de uso de combustíveis fósseis e da extração em lugares de grande risco, como a extração de petróleo em areia betuminosa, que devasta o solo e destrói as florestas , liberando dióxido de carbono na atmosfera.

Ainda como consequência disso, temos o derretimento rápido do Ártico, que irá influenciar nas mudanças do clima, provocando terremotos, enchentes e secas catastróficas. Outra coisa que contribui para este derretimento é a queima de florestas como a do Congo, na África, a amazônica e a de Sumatra, na Indonésia. Esta última já teve sua área reduzida em 80%, derrubada para a plantação de Palma, que produz o óleo de palma muito utilizado pela indústria alimentícia de processados, cosméticos e detergentes. Só em 2014, os incêndios destas florestas emitiram mais dióxido de carbono que os EUA em um ano.

Matéria jornalistica difamando o professor.

Para o Dr Michael E. Mann, em entrevista para o documentário, a refutação das mudanças climáticas, negadas inclusive por alguns cientistas, é financiada pela indústria de combustíveis que, para sobreviver, utiliza-se da compra de opinião de pessoas influentes para disseminar a falsa informação de que o aquecimento global não é culpa das indústrias. O cientista conta que inclusive foi ameaçado de morte e recebeu um envelope assustador com um pó branco dentro, sendo necessário acionar o FBI. Indo na contramão dos negacionistas, o Papa Francisco clama pela aceitação da ciência moderna para as mudanças climáticas, deixando de lado o conservadorismo da igreja para juntar-se a uma causa de suma importância que afetará todo o globo terrestre.

Entra ainda nesta balança a questão dos países emergentes que ainda não chegaram ao nível de desenvolvimento dos Estados Unidos e que querem chegar a este patamar, sendo desta forma difícil dizer que esses países, ao contrário dos EUA, devem investir em energia limpa, que no momento ainda é um investimento inicial caro. A mudança precisa começar nos países desenvolvidos. Um dos países que saiu na frente para estas mudanças é a Dinamarca, que produz 100% da energia de seu país através da energia eólica, seguido pela Alemanha que já tem 30% de sua energia de fonte renovável. Ambas mostram que é possível, bastando querer, modificar as formas de energia.

Corais mortos. Sem colorido aparecem na cor cinza.

Se estas mudanças não acontecerem, ilhas irão desaparecer e toda uma nação perderá seu território, como os habitantes da ilha de Palau, que inclusive já adquiriu um território para se mudar. Além dos moradores humanos perdendo seus lares, teremos também moradores aquáticos sem seus recifes de corais. Responsáveis por absorver ⅓ do dióxido de carbono, os corais irão ser reduzidos a 50% em 30 anos, segundo estimativas de Jeremy Bradford Cook Jackson, Diretor de Ciência da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral na União Internacional para a Conservação da Natureza. A morte destes corais representa cerca de 1 bilhão de anos de reversão da evolução dos mares.

Uma grande mudança pode acontecer no nosso prato. A criação de gado de corte provoca uma devastação gigantesca, indo desde o desmatamento, que libera o dióxido de carbono absorvido pela árvore, até a liberação de CH4, pelo próprio animal durante a alimentação, que equivale a 23 moléculas de dióxido de carbono, ainda mais letal que a queima de combustível fóssil.

Para o professor de economia em Harvard, N. Gregory Mankiw, a solução para a diminuição das emissões de carbono seria a cobrança de imposto sobre o carbono. Assim, com uma taxa sobre a emissão, tudo o que é produzido por meio da emissão deste gás seria mais caro. Com uma taxa mais alta, a população consome menos aquele determinado produto e assim diminuiria a emissão.

Fachada do local onde ocorreu a COP21

Infelizmente, a COP21 não trouxe esta taxa para a discussão e, apesar de toda a empolgação a respeito de um acordo ótimo, muito pouco sobre como a redução realmente será feita foi discutido. Em meio a muitos discursos, ficaram apenas as promessas de mudanças. Como afirmado pelo próprio Papa Francisco no documentário, “ Foi um passo importante, mas não o suficiente”.

De lá para cá, a coisa não melhorou, as mudanças que todos os países prometeram, e seguem prometendo, nas assembleias posteriores, continuam cheias de furos e alvo de muitas críticas devido às demasiadas promessas e ausência de ação e planos para a efetiva mudança. Piorou muito depois do anúncio do presidente americano Donald Trump, em 1 de junho de 2017, que deixaria o acordo de Paris. Sem o maior emissor de poluentes no acordo, como garantir a real eficácia da diminuição de gases do efeito estufa?! Além disso o ato de Trump alimenta mais as ideias negacionistas de que o efeito estufa é uma fraude, como, por exemplo, os discursos do atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro que segue a mesma linha negacionista e, para piorar, permite descaradamente, incentivando inclusive a derrubada da floresta amazônica. Se havia esperança na época do documentário de DiCaprio, hoje ela diminuiu drasticamente.

Larissa Vieira Vasconcelos.

Resenha crítica jornalistica produzida para a matéria de Redação Jornalistica III.

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Larissa Vasconcelos

Jornalista. Interessada em pautas políticas, econômicas, cinematográficas e literárias.